Desenvolvimento Infantil: do Esperado ao Alterado

 

O desenvolvimento infantil é mais do que um processo fascinante; é essencial para entender a formação das crianças. 

A sequência de mudanças que ocorrem nas estruturas físicas e neurológicas, nos processos de pensamento, emoções, comportamento e interação social são vitais. 

Mas o que acontece quando esses marcos são alterados ou quando surgem problemas cognitivos na infância? Vamos explorar essa jornada ao longo deste artigo…

 

Os Marcos do Desenvolvimento Infantil

 

Em primeiro lugar, antes de falarmos sobre os problemas cognitivos na infância, precisamos entender como funcionam os marcos do desenvolvimento infantil.

Assim, os marcos são mudanças progressivas e padronizadas, que representam os estágios principais do desenvolvimento mental e emocional. 

 

Esses marcos são observados em várias fases da infância, sendo fundamentais para a identificação tanto de possíveis problemas cognitivos quanto emocionais. 

 

Então, para te ajudar a visualizar o que é esperado para cada fase do desenvolvimento cognitivo da criança, vamos descrever alguns marcos

significativos em diferentes etapas:

 
0 a 2 Meses

 

  • Sorriso involuntário: as crianças reconhecem padrões faciais como o sorriso, olham o cuidador nos olhos e voltam a cabeça em direção a ruídos, principalmente a voz da mãe. O choro é uma resposta primária.
  • Desenvolvimento emocional: esta fase é vital para o início da relação mãe-bebê e todo o desenvolvimento posterior da criança.
2 a 6 Meses

 

  • Desenvolvimento cognitivo: os bebês nesta fase começam a explorar seus corpos ativamente, observando as mãos, formando bolhas de saliva e tocando em várias partes do corpo.
  • Desenvolvimento emocional: apresentam emoções primárias como raiva, alegria, medo e surpresa.
  • Jogos para desenvolvimento: cantar e fazer brincadeiras com as mãos podem aumentar o desenvolvimento social do bebê.
6 a 12 Meses

 

  • Desenvolvimento cognitivo: o padrão de reconhecimento de objetos envolve observação, tocar, bater, jogar e colocar na boca.
  • Permanência do objeto: compreensão de que o objeto continua a existir mesmo se não visto.
  • Independência: mostram maior autonomia, o que torna algumas tarefas diárias mais desafiadoras.
  • Comunicação: Utilizam comunicação não verbal e vocalização que mimetizam a língua nativa; os primeiros sinais de aquisição de linguagem.
  • Processo de autoconsciência: a criança se percebe como um ser distinto dos outros.
1 a 3 Anos

 

  • Mudança do controle neurológico: inquietação e ações intermitentes surgem nesta fase.
  • Acessos de raiva: os “terrible twos” representam intensos acessos de raiva por dificuldade em delimitar o que está dentro e fora de si.
  • Desenvolvimento de independência: começam a contar histórias, mas o entendimento de normas sociais e higiênicas ainda é incompleto.
4 a 6 Anos

 

  • Questionamentos: uso frequente das palavras “como” e “por que”.
  • Socialização: Inclusão na escola, desejo de fazer amigos, aprendizado de tempo, distância e conceitos numéricos.
A Partir dos 7 Anos

 

  • Entrada no mundo dos adultos: escolhas relacionadas a alimentos, roupas, horários de sono e banho. 

 

A compreensão desses estágios ajuda a identificar nuances no desenvolvimento da criança, facilitando a observação e intervenção de cuidadores e profissionais da saúde.

 

Problemas no Desenvolvimento Infantil: Quando Suspeitar de TEA?

 

O transtorno do espectro autista (TEA) é um exemplo de problema no desenvolvimento infantil que inclui uma variedade de sintomas e características. 

Desde 2013, o TEA inclui quatro condições que eram separadas: 

 

  • Transtorno Autista;
  • Síndrome de Asperger;
  • Transtorno Desintegrativo Infantil;
  • Transtorno Invasivo do Desenvolvimento. 

 

Esses nomes ainda são comuns nas discussões sobre o transtorno.

 

Identificando Problemas no Desenvolvimento Infantil: Sintomas de TEA

 

  • Déficits em habilidades sociais (comunicação e interação);
  • Dificuldade de apresentar atenção articulada e coordenada entre pessoas e objetos;
  • Não responder ao estímulo do chamado pelo próprio nome;
  • Não estabelecer e sustentar contato visual com interlocutores;
  • Comportamentos e interesses com padrões restritos, repetitivos e estereotipados;
  • Dificuldade adaptativa importante para mudanças de rotina;
  • Foco numa parte apenas dos brinquedos e não no todo do objeto;
  • Movimentos estereotipados como bater palmas, andar na ponta dos pés ou estalar os dedos próximo aos olhos;
  • Atrasos no desenvolvimento da linguagem;
  • Atraso de linguagem oral a partir de 18-24 meses sem gestos compensatórios;
  • Linguagem restrita ou repetitiva (ecolalia);
  • Problemas com o significado e o ritmo das palavras na formação de frases;
  • Dificuldade em compreender a linguagem corporal e os significados dos diferentes tons vocais.

 

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que todas as crianças entre 16 e 30 meses sejam triadas para TEA, independentemente de apresentarem sinais sugestivos do transtorno.

 

Mães, pais e cuidadores podem utilizar ferramentas de rastreio, que ajudam a identificar sinais de TEA. Algumas dessas ferramentas estão disponibilizadas de forma gratuita em app.piccolomh.com . Todas as crianças com uma quantidade de sintomas superior à esperada, devem ser avaliadas por um profissional de saúde.

 

Problemas no Desenvolvimento Infantil: Quando Suspeitar de TDAH?

 

Um dos Transtornos do Desenvolvimento na infância é o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDAH. Ele se manifesta por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade e/ou impulsividade.

 Esta condição afeta não só a atenção da criança, mas também suas atividades sociais e de aprendizado.

 

Como Identificar o Problema de Desenvolvimento mais Comum na Infância

 

O TDAH é o Transtorno de Desenvolvimento mais comum na Infância. Seu diagnóstico é clínico e só pode ser realizado por um profissional de saúde. Para diagnóstico do TDAH, os pacientes devem atender a todos os critérios de A a E, segundo o 5º Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V):

 

Critério A: Sintomas de Desatenção ou Hiperatividade/Impulsividade
  • Desatenção: erros frequentes por falta de cuidado, dificuldade em manter a atenção, negligência na escuta ativa, entre outros.
  • Hiperatividade/Impulsividade: agitação notável, deixar a cadeira constantemente, excesso de fala, etc.

 

Critério B: Presença dos Sintomas Antes dos 12 Anos
  • Características de hiperatividade/impulsividade ou desatenção devem ser identificadas antes dos 12 anos.

 

Critério C: Prejuízo em Dois ou Mais Contextos
  • Prejuízo notável deve estar presente em dois ou mais ambientes, como escola e casa.

 

Critério D: Evidência de Prejuízo Clinicamente Significativo
  • É preciso ter evidências claras de prejuízo no funcionamento social, acadêmico, ou ocupacional.

 

Critério E: Exclusão de Outros Transtornos
  • Os sintomas não devem ser confundidos com outros transtornos psicológicos ou condições mentais.

 

Mães, pais e cuidadores podem utilizar ferramentas de rastreio, que ajudam a identificar sinais de desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade. Uma dessas ferramentas, o SNAP-IV, é disponibilizada de forma gratuita em app.piccolomh.com . Todas as crianças com uma quantidade de sintomas superior à esperada, devem ser avaliadas por um profissional de saúde.

 

Conclusão sobre Desenvolvimento Infantil

 

A jornada do desenvolvimento na infância é um processo tanto complexo quanto fascinante. Entender os marcos normais e estar ciente das possíveis alterações, como o TEA e o TDAH, é fundamental para garantir o bem-estar e crescimento saudável da criança.

 Referências:

 

  1. Krull KR. Attention deficit hyperactivity disorder in children and adolescents: Clinical features and diagnosis. Augustyn M, Torchia MM, eds. UptoDate. Waltham, MA: UptoDate Inc.
  2. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-5). 5th ed. Arlington: APA, 2022.
  3. Campos D Jr, Dennis AR, Lopez FA (org.). Tratado de Pediatria. 4a ed. Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), 2017.

Compartilhe