O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) pode ser manejado com o tratamento correto, o qual deve ser individualizado para cada criança e família. Para que se descubra a melhor alternativa de tratamento é importante que os pais se aproximem das outras pessoas que fazem parte da vida e do tratamento da criança, como os professores, terapeutas, médicos, além dos outros amigos e familiares (1). O tratamento deve ser monitorado de perto para que se avalie o quanto está sendo benéfico para criança e se/quais ajustes são necessários (1).
O tratamento pode incluir medicação e terapia comportamental (1).
A educação é importante para que os pais e a criança compreendam o transtorno, o seu diagnóstico e o curso do tratamento. Acompanhamento psicológico para cuidar da saúde mental da criança e dos familiares também é importante. De forma geral, deve haver um plano de tratamento para cada criança considerando suas particularidades. Mais de um tipo de intervenção pode ser necessário (2).
Terapia comportamental
A Academia Americana de Pediatria recomenda que para crianças menores de 6 anos a primeira opção de tratamento a ser seguida, antes que se tente utilizar medicação, é a capacitação comportamental para os pais. Devido ao comportamento disruptivo que faz parte do TDAH, afeta não apenas o desempenho escolar da criança, mas também seus relacionamentos afetando a socialização, portanto a capacitação comportamental para os pais é necessária. Desta forma os pais podem compreender as necessidades de seus filhos e desenvolver habilidades e estratégias para auxiliá-los. Sabe-se que o a habilidade comportamental dos pais pode apresentar resultados tão bons quanto a medicação. Além disso, crianças mais jovens tendem a apresentar mais efeitos adversos dos medicamentos, além de não se compreender muito bem o efeito em longo prazo em crianças bem jovens (1,3).
Já para crianças maiores de 6 anos a recomendação é a combinação de tratamento medicamentoso e terapia comportamental, incluindo o treinamento para os pais em crianças até 12 anos (1).
O objetivo da terapia comportamental é fortalecer ou aprender comportamentos positivos e eliminar comportamentos indesejados (1). Sua adoção é crucial para o tratamento do TDAH em crianças e adolescentes. Deve ser iniciada assim que a criança recebe o diagnóstico, para se obter mais benefícios. Existem intervenções comportamentais adequadas para cada faixa etária (2).
A escola também é considerada parte do tratamento, pois serve como local de apoio que pode dar continuidade à terapia, ao serem adotadas estratégias de intervenção comportamental e habilidades organizacionais em sala de aula (1).
Além disso, o treinamento de habilidades organizacionais pode ser muito benéfico no tratamento crianças a partir de 6 anos (1).
Medicamentos
Medicamentos para TDAH podem ser uma parte importante do tratamento e só devem ser prescritos por médicos qualificados, idealmente psiquiatras e neurologistas, e após um diagnóstico preciso. Para a prescrição de medicamentos, os sintomas devem estar de acordo com o estabelecido no DSM-5 (3). No entanto, os medicamentos não promovem a cura do TDAH, mas ajudam no controle dos sintomas apresentados (2). Existem 2 classes de medicamentos que podem ser utilizados no manejo do TDAH: estimulantes e não-estimulantes (1,2).
As medicações estimulantes são as mais utilizadas, de efeito mais rápido e promovem o aumento da comunicação na rede neuronal, principalmente pelo estímulo do sistema dopaminérgico. Esta classe reduz mais os sintomas do transtorno, como melhora da atenção e do comportamento dirigido à execução de tarefas (especialmente em ambientes estruturados). Isso pode propiciar redução da impulsividade, auxiliar as crianças a seguirem instruções e a lidarem com frustrações (1,2). Alguns efeitos adversos podem ser: diminuição do apetite, problemas de sono, dor abdominal e dor de cabeça (1). Também é recomendado que os médicos monitorem os sinais vitais dos pacientes, já que pode haver aumento da frequência cardíaca e pressão arterial com a utilização desses medicamentos (3).
Já medicamentos não-estimulantes demoram mais para fazer efeito, no entanto, podem perdurar por até 24 horas e agir melhor em longo prazo. Pode-se optar por essa classe quando o tratamento com estimulantes não apresentou resultados ou apresentou efeitos adversos significativos. Os efeitos adversos podem ser: tontura, boca seca, fadiga, nervosismo, problemas de sono e dor abdominal (1,2).
É importante ter em mente que os medicamentos podem ter efeitos adversos e afetar as crianças de diferentes formas, e que o mesmo medicamento pode não funcionar para todas. Será necessário o acompanhamento pelo médico e bem como ajustes de posologia e medicações até que se encontre a opção que apresente os melhores resultados, considerando os efeitos adversos e os benefícios (1). Sugere-se que a combinação da terapia comportamental com o tratamento medicamentoso pode permitir, em alguns casos, a redução das doses do medicamento, diminuindo também as chances de efeitos adversos (3).
Algumas outras intervenções podem complementar o tratamento, como mudanças na alimentação, suplementos alimentares, práticas mente/corpo (yoga, exercício, meditação) e programas de treinamento cerebral. Porém, antes de se optar por uma dessas alternativas é sempre bom considerar os níveis de evidência científica dos benefícios de cada prática, se existem informações de fontes confiáveis e se os profissionais a administrá-las são qualificados. Além disso é importante conversar primeiro com o médico responsável pelo tratamento da criança, pois algumas vitaminas, minerais e fitoterápicos podem interagir com o medicamento afetando o seu efeito (2). De qualquer forma é fundamental que a criança se mantenha saudável mentalmente e fisicamente.
Referências
1 – Centers for Disease Control and Prevention. Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD). Disponível em: https://www.cdc.gov/ncbddd/adhd/index.html
2- Children and Adults with Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder. Parenting a child with ADHD. Disponível em: https://chadd.org/for-parents/overview/
3- Wolraich ML, Hagan JF, Allan C, Chan E, Davison D, Earls M, et al; Subcommittee on children and adolescents with attention-deficit/hyperactive disorder. Clinical practice guideline for the diagnosis, evaluation, and treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in children and adolescents. Pediatrics. 2019;144(4):e20192528. Disponível em: https://doi.org/10.1542/peds.2019-2528