Neuroplasticidade

O que é?

O cérebro possui a capacidade de se modificar e se adaptar frente a novas situações. Esta capacidade é chamada de neuroplasticidade. Essas modificações podem envolver a forma e bioquímica cerebral, bem como adaptações em nível farmacológico e nas redes neuronais. Isso possibilita a remodelação nos neurônios, formação de novas sinapses, aumento de espinhas dendríticas e até mesmo neurogênese (formação de novos neurônios), viabilizando a recuperação funcional e mudanças comportamentais adaptativas (1).

Como ocorre a comunicação entre os neurônios?

De forma geral, a estrutura básica de um neurônio consiste em um corpo (também chamado de soma, onde está contido o núcleo), dendritos (que recebem estímulos), um axônio que conduz o impulso elétrico e termina em um terminal sináptico. Os axônios podem ser revestidos por bainha de mielina, uma “capa de gordura”, a qual permite que o impulso elétrico se propague pelo axônio em uma velocidade maior. A fenda sináptica é um pequeno espaço entre o terminal sináptico de um neurônio e o dendrito, ou axônio ou corpo de outro neurônio. É na fenda sináptica que ocorre a sinapse, isto é, a transmissão de informação entre neurônios (2).

O neurônio, assim como outras células do corpo é revestido por uma membrana regulada por gradientes iônicos. Mudanças nesse gradiente desencadeiam o potencial de ação, que é transmitido ao longo do axônio e resulta na liberação de neurotransmissores na fenda sináptica. Esses neurotransmissores se ligam a receptores presentes na membrana do neurônio pós-sináptico e assim desencadeiam ou inibem respostas (2).

Como estimular neuroplasticidade?

A neuroplasticidade pode ocorrer durante toda a vida do indivíduo, desde antes do nascimento até a idade adulta. Porém, ela é muito mais acentuada durante os primeiros anos de vida, que é um momento em que o cérebro é mais sensível à reorganização sináptica e ao reparo de neurônios danificados (3).

Como a neuroplasticidade pode ser compreendida como uma adaptação obrigatória do cérebro em resposta a processos neurobiológicos, subentende-se que qualquer estímulo neurobiológico tem a capacidade de remodelar a estrutura e o funcionamento cerebral. Consequentemente mudanças comportamentais podem ser induzidas, influenciando a capacidade de aprendizado e memória. Ou seja, quando a criança passa por diferentes experiências e estímulos físicos, sensoriais ou emocionais, essa neuroplasticidade é estimulada (3). Por exemplo, a música pode servir como um enriquecimento ambiental para bebês hospitalizados (4). O aprendizado da música pode induzir plasticidade, até mesmo em cérebros mais velhos (5). No entanto, é importante salientar que o cérebro também pode sofrer influências negativas. Por exemplo, o estresse pode prejudicar o desenvolvimento, e até mesmo modificar negativamente estruturas como o hipocampo, amígdala e o córtex pré-frontal (3).

Padrões anormais de neuroplasticidade têm sido mostrados em casos de doenças pediátricas como epilepsia, distonia, Transtorno no Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), transtornos neuropsiquiátricos, paralisia cerebral, entre outras. Portanto, os estudos que abordam neuromodulação pediátrica vêm aumentando. Sabe-se que as respostas aos diferentes estímulos podem ser maiores quando ocorrem durante períodos críticos do desenvolvimento (4).

Referências

  1. Oliveira RW. Neuroplasticity. J Chem Neuroanat. 2020;108:101822. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jchemneu.2020.101822
  2. Kandel E, Schwartz J, Jessel T, Siegelbaum SA, Hudspeth AJ. Princípios de Neurociências. Porto Alegre: AMGH, 2014.
  3. Bandeira ID, Lins-Silva DH, Barouh JL, Faria-Guimarães D, Dorea-Bandeira I, Souza LS, et al. Neuroplasticity and non-invasive brain stimulation in the developing brain. Prog Brain Res*.* 2021*;264*, 57–89. Disponível em: https://doi.org/10.1016/bs.pbr.2021.04.003
  4. Chorna O, Filippa M, De Almeida JS, Lordier L, Monaci MG, Hüppi P, et al. Neuroprocessing mechanisms of music during fetal and neonatal development: A role in neuroplasticity and neurodevelopment. Neural plasticity. 2019.3972918. Disponível em: https://doi.org/10.1155/2019/3972918
  5. Ismail FY, Fatemi A, Johnston MV. Cerebral plasticity: Windows of opportunity in the developing brain. Eur J Paediatr Neurol. 201;21(1), 23-48. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.ejpn.2016.07.007

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